Patrícia Adriana Corrente
O
século XIX foi o de maior riqueza cultural no Brasil, Realismo e o Naturalismo
são movimentos dessa época, porém já se viu realismo na Bíblia e em Homero antes
de aparecer em Balzac, por exemplo. Esses dois períodos são vistos como
“homogêneos”, mas tem características do romantismo e também do simbolismo,
isso se explica porque no XIX houve uma grande recusa à periodização precisa.
As escolas mais diversas acabam por se assemelhar devido a outros motivos, pelas
transformações que aqui ocorreram terem sido o reflexo de ideias estrangeiras.
O Romantismo se prolongou por tempos
após o século XIX, ele em contrapartida ao Classicismo, promove essa oscilação
entre objetividade e subjetividade, porém nesta época o que teve realmente
lugar foi a tríade Realismo-Naturalismo-Paranasianismo, grupo este que reagiu
contra o apelo romântico, tendo como inimigo o grande filho do Romantismo, o
Simbolismo.
Devido aos estudos de cunho
científico, os homens deste século se voltaram para a devoção às coisas
materiais, a teoria de Darwin tornou-se uma religião, o mundo se tornou
mecânico devido à ascensão da indústria, e as ideias do livre pensamento com
relação à religião tornaram-se uma constante. As ciências sociais se aliaram às
biológicas e naturais, trabalhando juntas em estudos dos fatos humanos e
sociais.
No século XIX, as ideias que
reinavam eram as do iluminismo, liberalismo, positivismo, naturalismo,
contra-espiritualismo e da ciência e do progresso, uma ebulição do
materialismo. A teoria da evolução darwiniana fez da biologia a mola propulsora
do pensamento do homem desta época, mudando concepções e métodos,
transformando–os num sentido naturalista. A partir desta teoria os homens
passaram a ser vistos como células reunidas num grande composto, a sociedade.
No que tange à literatura,
“realista’ deriva de real, encarar os fatos tais como o são na realidade, opondo-se
ao idealismo no romantismo, essa corrente apresenta em suas obras as
características dos opostos: bem e mal, beleza e feiúra, rudeza e requinte,
isso pelo compromisso com a verdade, com o que existe e que é palpável.
Realismo é antes de tudo uma
tendência, um estado de espírito e não algo estanque, acabado. Apresenta a
verdade, tem como característica a verossimilhança, foge do sentimentalismo e
do artificial, idealizado. Faz o retrato real de seus personagens, estes que
são humanos, completos, têm vida, emoções reais e não artificiais e forçadas
como se vê no período romântico. No realismo não ocorre intromissão subjetiva
do autor em seu texto, ele não infere seus sentimentos nos dos personagens,
essa escola retrata a vida tal como ela é. Os homens e seus conflitos são seus
principais assuntos, proporcionando uma precisão e fidelidade ao real. A
narrativa “real” é minuciosa, dá ênfase à caracterização ao invés da ação e sua
linguagem é a mais próxima da realidade.
O Naturalismo é visto como o realismo
acrescido de uma visão materialista do homem do homem e da sociedade, isso
amparado pela cientificidade. Para a literatura esse período se vale dos
métodos de observação e experimentação no trabalho dos fatos e das personagens,
agora o homem não é estudado de maneira abstrata, mas como objeto das leis
físico-químicas e influenciado pelo meio que vive. Nas obras naturalistas as
camadas mais baixas da sociedade são um dos grandes assuntos dos escritores, a
sociedade não mais idealizada, romântica e muito mais do que real, escancarada.
São características desse polêmico
momento literário: o amor pela natureza e pela beleza natural, a fidelidade ao
natural, uma ideia naturalista da vida, o homem em seus aspectos fisiológicos,
semelhança do homem ao animal desprovido de razão. O homem é o objeto do naturalista,
que é observado como um “caso” a ser analisado, impessoalmente e objetivamente,
ele e seu meio são vistos como realmente são e não influenciados pela ótica do
subjetivo. A vida, para o naturalista, é o reflexo do movimento de forças
mecânicas sobre os homens, que resulta nos atos, caráter e destino dos mesmos.
Este movimento não durou mais do que a década de 80 do século XIX.
O Parnasianismo foi o movimento
referente à poesia na época da prosa realista-naturalista. Esse movimento objetivista
concentrou-se num apelo à forma, à técnica, contrário à inspiração e ao
essencial romântico, ou seja, a “arte pela arte”.
A França teve grande influência
cultural no Brasil, trouxe, além de outras, as ideias modernas do século XIX,
influenciadas pelo Iluminismo, tinham tendências racionais, materiais de
libertação do pensamento. A maçonaria foi um instrumento de grande força na
propagação desses ideais, favorecendo até a circulação de livros que foram
censurados por órgãos de censura no Brasil. Os jovens que frequentavam os
centros de cultura, academias e universidades do Brasil, em sua grande maioria,
tinham contato com os grandes centros de cultura europeus, o que favoreceu a
disseminação dos ideais de racionalismo, anticlericalismo, materialismo e
laicização, os grandes focos de propagação dessas ideias foram São Paulo, Rio
de Janeiro, Recife e Bahia. Esse pensamento moderno atingiu também a América
Espanhola e Portugal.
Nessa época de modificação, o autor
português Eça de Queiroz teve grande influência no Brasil literário. Suas obras
“O Crime do Padre Amaro” e “O Primo Basílio” foram um dos ícones da estética
realista-naturalista. A influência de Eça se dá na temática, maneira, estilo e
na ironia, isso se verifica nas obras posteriores às duas já citadas, como por
exemplo “O mulato” de Aluísio de Azevedo.
O Brasil sofreu grandes modificações
nessa época de transição, a civilização que antes era agrária e latifundiária
se tornou burguesa e urbana, em processo de industrialização. Nesse processo já
se vê o homem urbano e proletário, as transformações no âmbito da antropologia
social deram-se pela abolição da escravatura.
Quanto ao realismo no Brasil é
possível descriminar certos padrões: o padrão biográfico, onde se dá maior
importância à caracterização dos personagens e à descrição de sua vida, fazendo
com que o protagonista seja enaltecido, o que é a intenção do ficcionista realista;
o padrão regional, onde traços de uma região são caracterizados; o padrão
ambiental, um quadro geográfico é aí representado, e o padrão psicológico, onde
ocorre a resolução de uma situação subjetiva. As temáticas dessa escola foram
os problemas sociais e o regionalismo, caracterizado pela dureza e da vida
rural brasileira e a desesperança e o desencanto. O regionalismo é visto como a
vitória da natureza sobre o homem.
Esse período da literatura foi
marcante no processo de nacionalização da literatura, a visão da realidade
brasileira trouxe também a valorização da pátria e do que é nosso. Como gênero
literário, o romance se moldou perfeitamente à proposta realista, mas assim
como no Naturalismo, o conto e o teatro também encontraram refúgio. Dentre os
inúmeros autores, é de suma importância citar Machado de Assis e Raul Pompéia,
que além de realistas são também naturalistas