Patrícia Adriana Corrente
Num
contexto de escritura de uma obra literária, a ideia de morte do autor remete à
destruição de toda voz, todo sujeito subjetivo que ressoa pelos ouvidos da
escrita. A partir do momento em que o autor morre, a obra inicia sua própria
escritura. Para que isso ocorra, o autor deve ser encarado como um mediador da
escrita e não como autor daquelas palavras.
Porém, ele ainda é muito solicitado
em biografias, entrevista e na consciência dos literatos que teimam em juntar a
pessoa e a obra, busca-se ainda uma ’explicação’ da obra como se apenas a voz
do autor ressoasse na obra. Mallarmé na França iniciou o trabalho de dar à língua e à linguagem o seu lugar na confecção de uma obra literária, dando ao
autor uma impessoalidade. Proust não se doou em suas obras, mas retirou dos
romances sua própria vida.
Com o Surrealismo, a ideia de autor
teve pouca importância, ao subverter o código (língua), a escrita era menos
formal, mais automática, menos inspiradora, fruto de uma experiência coletiva,
de vários “eus”. Partindo para um argumento linguístico onde é visto que a
enunciação fala por si só, sem que haja a necessidade de preenchê-la com a
pessoa do interlocutor, perde-se a “pessoa” e ganha-se o “sujeito” e este basta
para a linguagem, o que acaba também por “matar” o autor.
Quando se acredita no autor, levando
em conta uma concepção temporal, vê-se nele um passado que vive antes de sua
obra, a relação entre obra e autor é a de um pai para seu filho, e já no texto
moderno o autor é visto como alguém que nasce com sua obra, ele existe no tempo
da enunciação do texto, o texto é escrito aqui
e agora, nesse sentido a escrita não é mais uma espécie de registro
biográfico do autor.
O texto é um emaranhado de outros
textos que conversam entre si para não produzir um sentido único, mas vários.
Ele é composto por várias citações extraídas das muitas culturas, o que o texto
diz pelas mãos do escritor é sempre o que já foi dito em algum momento sempre
anterior, e sua fala nunca é original. Dar autoria ao texto é dar-lhe um único
significado, uma explicação. A partir do momento em que se crê na escritura
múltipla, não há nada para ser decifrado, não há segredo a ser descoberto e por
fim ocorre a recusa a "deus".
O texto é a fonte de várias
escrituras, de várias vozes que dialogam entre si e se reúnem num só lugar, que
não é o do autor, mas o do leitor, este que também traz as suas escritas e suas
leituras, a unidade do texto está em seu destino: o do ouvinte final. Pouco se
deu importância à figura do leitor, mas muito à figura do autor. Com a morte do
autor, nasce o leitor.
Referência:
BARTHES, Roland. O
Rumor da Língua. A morte do autor.
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