A
Literatura Nacional, passou por várias fases para chegar até os dias de hoje,
sempre na busca de uma identidade própria, não uma cópia do modelo europeu, ou
estadunidense mas sim uma literatura tupiniquim, de nossa gente, com nossas
experiências, enfim, uma literatura que reflita a realidade brasileira. Nesse
trabalho vamos levantar três fases da literatura e abordar as várias formas em que
se defendeu a literatura nacional.
INDIANISMO
Nessa
primeira fase do modernismo, a necessidade de uma literatura original e
nacional fez com que os escritores adotassem um “herói”, nesse caso o Índio,
uma inegável parte da sociedade, um ser de nacionalidade pura, bom por natureza
e por origem, embasados nos moldes europeus. Mas se pode notar que, eles não
tiveram a preocupação em trazer o negro para os escritos, pois todos os homens
da sociedade daquela época os consideravam sem-alma, não humanos e valorizá-los
poderia ser considerado um crime, e tinham pelo índio uma certo apreço.
O
Indianismo não erá só um movimento de reação nativista, mas além disso, de
autonomia, de busca pela nacionalidade, após a Independência, o índio era
livre na visão dos indianistas, ao contrário do negro que servia apenas ao
trabalho, é um tanto quanto contraditória essa tese de que se deve
valorizar o índio perante a literatura e não o negro, afinal de contas, o negro
foi um dos pilastres do Brasil.
Os percursores do Indianismo e, por consequência, do Romantismo foram José de Alencar, este o maior dos indianistas, e Gonçalves
Dias, mas antes deles já se falava em indianismo e busca pela literatura de
origem nacional, seja para combater a dominação portuguesa, ou para uma identificação do ser de origem. O
indianismo deu impulso à literatura, divulgou a literatura daqui, traduzindo
essa realidade econômica e social e fundamentalmente, deu cara nova ao
romantismo, antes copiado da Europa.
O interessante do movimento indianista é que
teoricamente ele não passou das histórias e do desejo de intelectuais, pois o
índio não obteve privilégios, pelo contrário, levando em conta os estudos,
pensando em toda a história do Brasil, o Índio perdeu e muito, perdeu sua
cultura, sua identidade, sua autonomia, enfim o índio fora violentado por um
povo que invadiu suas terras e estuprou suas mulheres, mas elevando-o à condição de herói apagaria toda a miséria
que antes havia feito? Talvez o movimento indianista possa soar um como um pedido de desculpas.
Mas tendo pelo ponto de vista o escritor que
escreve em prol de um ideal, pensamos
que elevar o índio a herói foi uma necessidade de resgate cultural, visto que
a cultura nacional estava nas mãos
indígenas e não nas dos colonizadores, era uma busca ao que é daqui, ao que é
naturalmente brasileiro.
José de Alencar fora por muitos considerado como
ofensor da história e da verdade, pois não retratou o índio sob a realidade,
mas sim sob uma ótica guerreira e heróica, endeusado, porém isso não afetou o prestígio que o autor obteve, a
preferência de suas leituras são as que tratavam do indígena, sem dúvida. Gonçalves
Dias foi o melhor poeta que retratou o índio, em sua obra o indígena foi o
assunto que mais tocou o leitor, Dias eternizou o índio e o incrustou na literatura
.Depois desses dois autores terem retratado o índio à sua maneira lírica ou
subjetiva o indianismo recaiu, dando espaço a outros temas dentro do
romantismo. É certo que os índios Guarani, Iracema, do romantismo, são bem diferentes do índio moderno Macunaíma, que também tenta representar a cultura nacional,
porém satiriza o próprio brasileiro, pela figura do índio-herói, anti-herói.
MODERNISMO
O Modernismo abrange três
aspectos intimamente ligados, o primeiro é o movimento o segundo uma estética e
o terceiro um período.
Em 1922, em São Paulo, ocorreu a Semana de Arte
Moderna e deu-se origem ao movimento que se ramificou por todo o país, vale
lembrar que esse movimento foi de ruptura, assim como o romantismo, que rompeu
com o plano formal e temático da nossa literatura.
O Modernismo foi um movimento que acompanhou seu
tempo, pois fazia alusão às mudanças tecnológicas do período histórico, em
nossa opinião essa característica do movimento é positiva, pois retrata a
realidade nua e crua e foge dos padrões antes impostos.
No entanto, o movimento não pregava que era necessário esquecer completamente o que vinha de fora, mas sim filtrar e se apropriar do que é bom, isso se observa
no Manifesto Antropofágico Esse manifesto foi um “soco na cara “
dos literatos do momento, pois foi totalmente inovador e agressivo aos que não
estavam adaptados à nova tendência.
No Modernismo aparece um novo herói indígena, o Macunaíma, por exemplo, assim como
no romantismo. Quando é falado no índio, ele é retratado sob um outro foco, o
índio deixa de ser o guerreiro do romantismo e passa a ser o preguiçoso do
modernismo, o nacionalismo, sob essa ótica, é visto de forma negativa pois esse
novo herói é uma observação desprivilegiada da própria sociedade brasileira.
Esteticamente falando, o movimento deixa de
lado o lirismo do romantismo e
estabelece uma nova tendência mais livre, onde os autores expressam seus
sentimentos de forma aberta e inovadora, mantendo como pano de fundo o contexto
social, histórico e econômico da época. Essa prática
inovadora só veio a contribuir para a literatura nacional, visto que essa forma
dá liberdade tanto aos leitores quanto aos artistas, onde cada um pode
retratar, pensar e analisar o que bem entender de cada obra, sem medo das
repressões que poderiam vir a ser impostas pela sociedade cultural da época.
O que a
Antropofagia propôs era uma não rejeição completa à cultura européia,
mas sim superá-la assimilando e mastigando o que ela tem de bom, e recriando
novos aspectos literários de acordo com os artistas nacionais da época, tentando, dessa maneira, superar de qualquer modo a imposição da cultura social e
literária europeia do período.
TROPICÁLIA
O Tropicalismo foi um movimento essencialmente
musical, onde os estilos eram basicamente e inteiramente de raízes
brasileiras, não pendendo, de maneira
nenhuma, para as inclinações da estilística cultural e literária europeia Possuía expressão literária nacional e teve como pano de fundo a época do
golpe militar, do Ato Institucional, A I 5, nos anos de 1964 a 1968. Esse Ato
determinou, entre outras imposições, a censura cultural nacional.
Foi um movimento totalmente revolucionário,
podendo-se dizer de “esquerda”, pois rompeu com o estilo da MPB regida pela
Bossa Nova, e trouxe críticas ao governo vigente da época, visto que vários
artistas foram exilados do país e proibidos de exercerem suas funções. De acordo
com o AI 5, os artistas tinham que se submeter a escrever o que pensavam de
maneira subliminar, cabendo aos ouvintes e leitores entender o que o autor ou
artista quis estabelecer nas entrelinhas dos textos musicais, se fosse a vontade do mesmo.
Esse movimento foi de grande
valor para a literatura e para a cultura do país, mas foi trágico e triste, visto
que a vontade de gritar era grande, mas a censura também, cabia aos artistas
calarem-se.
As músicas Cálice, de Chico Buarque e Pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré, são exemplos nítidos da repressão ao artista e ao
movimento.
Os artistas dessa época, na maioria das vezes, estavam
no auge de sua juventude, onde explodiam as ideias de reformulação da cultura e
da política nacional, muitos não concordavam com a imposição governamental e
desejavam o rompimento dessa repressão, tanto social quanto cultural.
A repressão prejudicou e muito o
desenvolvimento da cultura, pois livros tiveram de serem publicados em outras
épocas, e músicas forma banidas pela censura, tirando o privilégio da população
de usufruir da boa arte ou da boa música que deixaram de serem publicadas.
Estes três movimentos de
alguma maneira estão intimamente interligados, pois são sequências literárias
que dependem umas das outras e defendem a literatura nacional, defendem o que é
do povo brasileiro, são relatos de suas experiências, literatura de suas
realidades e pensamentos e vontades a serem exprimidos nas obras que fluíram no
período cultural e vigente da época.
BIBLIOGRAFIA:
CANDIDO A . e CASTELLO A . José, “Presença da Cultura Brasileira”, 6ª ed., Rio de janeiro – São Paulo, 1977.
SODRÉ W. Nelson, “História da Literatura
Brasileira”, 5ª ed., Rio de Janeiro, 1969.
CADORE A . Luís, “Curso Prático de Português”, São Paulo, 1998.
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