quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Por uma Literatura Nacional - Histórico




Patrícia Adriana Corrente

A Literatura Nacional, passou por várias fases para chegar até os dias de hoje, sempre na busca de uma identidade própria, não uma cópia do modelo europeu, ou estadunidense mas sim uma literatura tupiniquim, de nossa gente, com nossas experiências, enfim, uma literatura que reflita a realidade brasileira. Nesse trabalho vamos levantar três fases da literatura e abordar as várias formas em que se defendeu a literatura nacional.

                     
                       INDIANISMO

Nessa primeira fase do modernismo, a necessidade de uma literatura original e nacional fez com que os escritores adotassem um “herói”, nesse caso o Índio, uma inegável parte da sociedade, um ser de nacionalidade pura, bom por natureza e por origem, embasados nos moldes europeus. Mas se pode notar que, eles não tiveram a preocupação em trazer o negro para os escritos, pois todos os homens da sociedade daquela época os consideravam sem-alma, não humanos e valorizá-los poderia ser considerado um crime, e tinham pelo índio uma certo apreço.
O Indianismo não erá só um movimento de reação nativista, mas além disso, de autonomia, de busca pela nacionalidade, após a Independência, o índio era livre na visão dos indianistas, ao contrário do negro que servia apenas ao trabalho, é um tanto quanto contraditória essa tese de que se deve valorizar o índio perante a literatura e não o negro, afinal de contas, o negro foi um dos pilastres do Brasil.
Os percursores do Indianismo e, por consequência, do Romantismo foram José de Alencar, este o maior dos indianistas, e Gonçalves Dias, mas antes deles já se falava em indianismo e busca pela literatura de origem nacional, seja para combater a dominação portuguesa,  ou para uma identificação do ser de origem. O indianismo deu impulso à literatura, divulgou a literatura daqui, traduzindo essa realidade econômica e social e fundamentalmente, deu cara nova ao romantismo, antes copiado da Europa.
O interessante do movimento indianista é que teoricamente ele não passou das histórias e do desejo de intelectuais, pois o índio não obteve privilégios, pelo contrário, levando em conta os estudos, pensando em toda a história do Brasil, o Índio perdeu e muito, perdeu sua cultura, sua identidade, sua autonomia, enfim o índio fora violentado por um povo que invadiu suas terras e estuprou suas mulheres, mas elevando-o  à condição de herói apagaria toda a miséria que antes havia feito? Talvez o movimento indianista possa soar um como um pedido de desculpas.
Mas tendo pelo ponto de vista o escritor que escreve em prol de um ideal, pensamos que elevar o índio a herói foi uma necessidade de resgate cultural, visto que a cultura nacional estava nas  mãos indígenas e não nas dos colonizadores, era uma busca ao que é daqui, ao que é naturalmente brasileiro.
José de Alencar fora por muitos considerado como ofensor da história e da verdade, pois não retratou o índio sob a realidade, mas sim sob uma ótica guerreira e heróica, endeusado, porém isso não afetou o prestígio que o autor obteve, a preferência de suas leituras são as que tratavam do indígena, sem dúvida. Gonçalves Dias foi o melhor poeta que retratou o índio, em sua obra o indígena foi o assunto que mais tocou o leitor, Dias eternizou o índio e o incrustou na literatura .Depois desses dois autores terem retratado o índio à sua maneira lírica ou subjetiva o indianismo recaiu, dando espaço a outros temas dentro do romantismo. É certo que os índios Guarani, Iracema, do romantismo, são bem diferentes do índio moderno Macunaíma, que também tenta representar a cultura nacional, porém satiriza o próprio brasileiro, pela figura do índio-herói, anti-herói.

                       MODERNISMO

O Modernismo abrange três aspectos intimamente ligados, o primeiro é o movimento o segundo uma estética e o terceiro um período.
Em 1922, em São Paulo, ocorreu a Semana de Arte Moderna e deu-se origem ao movimento que se ramificou por todo o país, vale lembrar que esse movimento foi de ruptura, assim como o romantismo, que rompeu com o plano formal e temático da nossa literatura.
O Modernismo foi um movimento que acompanhou seu tempo, pois fazia alusão às mudanças tecnológicas do período histórico, em nossa opinião essa característica do movimento é positiva, pois retrata a realidade nua e crua e foge dos padrões antes impostos.
No entanto, o movimento não pregava que era necessário esquecer completamente o que vinha de fora, mas sim filtrar  e se apropriar do que é bom, isso se observa no Manifesto Antropofágico Esse manifesto foi um “soco na cara “ dos literatos do momento, pois foi totalmente inovador e agressivo aos que não estavam adaptados à nova tendência.
No Modernismo aparece um novo herói indígena, o Macunaíma, por exemplo, assim como no romantismo. Quando é falado no índio, ele é retratado sob um outro foco, o índio deixa de ser o guerreiro do romantismo e passa a ser o preguiçoso do modernismo,  o nacionalismo, sob essa ótica, é visto de forma negativa pois esse novo herói é uma observação desprivilegiada da própria sociedade brasileira.
Esteticamente falando, o movimento deixa de lado  o lirismo do romantismo e estabelece uma nova tendência mais livre, onde os autores expressam seus sentimentos de forma aberta e inovadora, mantendo como pano de fundo o contexto social, histórico e econômico da época. Essa prática inovadora só veio a contribuir para a literatura nacional, visto que essa forma dá liberdade tanto aos leitores quanto aos artistas, onde cada um pode retratar, pensar e analisar o que bem entender de cada obra, sem medo das repressões que poderiam vir a ser impostas pela sociedade cultural da época.
O que a Antropofagia propôs era uma não rejeição completa à cultura européia, mas sim superá-la assimilando e mastigando o que ela tem de bom, e recriando novos aspectos literários de acordo com os artistas nacionais da época, tentando, dessa maneira, superar de qualquer modo a imposição da cultura social e literária europeia do período.
                                                                                                                                                                                                                                                                                                
                         TROPICÁLIA

O Tropicalismo foi um movimento essencialmente musical, onde os estilos  eram basicamente e inteiramente de raízes brasileiras,   não pendendo, de maneira nenhuma, para as inclinações da estilística cultural e literária europeia Possuía expressão literária nacional e teve como pano de fundo a época do golpe militar, do Ato Institucional, A I 5, nos anos de 1964 a 1968. Esse Ato determinou, entre outras imposições, a censura cultural nacional.
Foi um movimento totalmente revolucionário, podendo-se dizer de “esquerda”, pois rompeu com o estilo da MPB regida pela Bossa Nova, e trouxe críticas ao governo vigente da época, visto que vários artistas foram exilados do país e proibidos de exercerem suas funções. De acordo com o AI 5, os artistas tinham que se submeter a escrever o que pensavam de maneira subliminar, cabendo aos ouvintes e leitores entender o que o autor ou artista quis estabelecer nas entrelinhas dos textos musicais, se fosse a vontade do mesmo.
Esse movimento foi de grande valor para a literatura e para a cultura do país, mas foi trágico e triste, visto que a vontade de gritar era grande, mas a censura também, cabia aos artistas calarem-se. 
As músicas Cálice, de Chico Buarque e Pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré, são exemplos nítidos da repressão ao artista e ao movimento.
Os artistas dessa época, na maioria das vezes, estavam no auge de sua juventude, onde explodiam as ideias de reformulação da cultura e da política nacional, muitos não concordavam com a imposição governamental e desejavam o rompimento dessa repressão, tanto social quanto cultural.
A repressão prejudicou e muito o desenvolvimento da cultura, pois livros tiveram de serem publicados em outras épocas, e músicas forma banidas pela censura, tirando o privilégio da população de usufruir da boa arte ou da boa música que deixaram de serem publicadas.
Estes três movimentos de alguma maneira estão intimamente interligados, pois são sequências literárias que dependem umas das outras e defendem a literatura nacional, defendem o que é do povo brasileiro, são relatos de suas experiências, literatura de suas realidades e pensamentos e vontades a serem exprimidos nas obras que fluíram no período cultural e vigente da época.


                        BIBLIOGRAFIA:

CANDIDO A . e CASTELLO A . José, “Presença da Cultura Brasileira”, 6ª ed., Rio de janeiro – São Paulo, 1977.
SODRÉ W. Nelson, “História da Literatura Brasileira”, 5ª ed., Rio de Janeiro, 1969.

CADORE A . Luís, “Curso Prático de Português”, São Paulo, 1998.

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