quinta-feira, 18 de abril de 2013

Resenha O Livro do Amor Vol. 2


O Livro do Amor Vol. 2 - Do Iluminismo à atualidade
Regina Navarro Lins

Patrícia Corrente

À primeira vista, torce-se o nariz para o título da obra, mas não, este não é um livro de autoajuda. O Livro do Amor é, em primeiro lugar, uma pesquisa aprofundada sobre a história do amor no decorrer dos tempos — este trata do século das luzes, século das ideias, até os dias de hoje.
Regina Navarro Lins, psicanalista renomada, traz uma pesquisa fundamentada na realidade do amor tal como ele se deu e suas inter-relações, e não pautada no ideal do "amor romântico", cultivado até hoje por meio da literatura, letras de músicas, filmes, etc.. Este "amor romântico", que é irreal e só traz frustração, a autora tenta desconstruir, fazendo uma analogia à necessidade dele com a volta ao estágio intrauterino, ou seja, a sensação de amar romanticamente é simplesmente a necessidade de sentir-se acolhido, completo, dentro do útero materno.
O Livro do Amor Vol. 2 faz um apanhado geral sobre as relações amorosas e sexuais nos dias de hoje, com a ascensão tecnológica, principalmente da internet, que modificou todas as relações sociais, e o advento da pílula anticoncepcional, que trouxe ganhos até para os homossexuais. 

Feliz Dia dos Pais, Mãe

Artigo escrito em 2012

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Linguagem não se justifica - Paulo Leminski

"Leminskiando"

Leminski e a (in)utilidade da poesia


Simplesmente, Leminski

A lua no cinema (Paulo Leminski)


A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.

Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,

dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!

Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.

A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
que até hoje a lua insiste:
- Amanheça, por favor!



 Lemisnki e a poesia etária

Barthes e a morte do autor


Patrícia Adriana Corrente

           Num contexto de escritura de uma obra literária, a ideia de morte do autor remete à destruição de toda voz, todo sujeito subjetivo que ressoa pelos ouvidos da escrita. A partir do momento em que o autor morre, a obra inicia sua própria escritura. Para que isso ocorra, o autor deve ser encarado como um mediador da escrita e não como autor daquelas palavras.
            Porém, ele ainda é muito solicitado em biografias, entrevista e na consciência dos literatos que teimam em juntar a pessoa e a obra, busca-se ainda uma ’explicação’ da obra como se apenas a voz do autor ressoasse na obra. Mallarmé na França iniciou o trabalho de dar à língua e à linguagem o seu lugar na confecção de uma obra literária, dando ao autor uma impessoalidade. Proust não se doou em suas obras, mas retirou dos romances sua própria vida.
            Com o Surrealismo, a ideia de autor teve pouca importância, ao subverter o código (língua), a escrita era menos formal, mais automática, menos inspiradora, fruto de uma experiência coletiva, de vários “eus”. Partindo para um argumento linguístico onde é visto que a enunciação fala por si só, sem que haja a necessidade de preenchê-la com a pessoa do interlocutor, perde-se a “pessoa” e ganha-se o “sujeito” e este basta para a linguagem, o que acaba também por “matar” o autor.
            Quando se acredita no autor, levando em conta uma concepção temporal, vê-se nele um passado que vive antes de sua obra, a relação entre obra e autor é a de um pai para seu filho, e já no texto moderno o autor é visto como alguém que nasce com sua obra, ele existe no tempo da enunciação do texto, o texto é escrito aqui e agora, nesse sentido a escrita não é mais uma espécie de registro biográfico do autor.
            O texto é um emaranhado de outros textos que conversam entre si para não produzir um sentido único, mas vários. Ele é composto por várias citações extraídas das muitas culturas, o que o texto diz pelas mãos do escritor é sempre o que já foi dito em algum momento sempre anterior, e sua fala nunca é original. Dar autoria ao texto é dar-lhe um único significado, uma explicação. A partir do momento em que se crê na escritura múltipla, não há nada para ser decifrado, não há segredo a ser descoberto e por fim ocorre a recusa a "deus".
            O texto é a fonte de várias escrituras, de várias vozes que dialogam entre si e se reúnem num só lugar, que não é o do autor, mas o do leitor, este que também traz as suas escritas e suas leituras, a unidade do texto está em seu destino: o do ouvinte final. Pouco se deu importância à figura do leitor, mas muito à figura do autor. Com a morte do autor, nasce o leitor.

Referência:
BARTHES, Roland. O Rumor da Língua. A morte do autor.

Realismo, Naturalismo e Parnasianismo


           Patrícia Adriana Corrente

             O século XIX foi o de maior riqueza cultural no Brasil, Realismo e o Naturalismo são movimentos dessa época, porém já se viu realismo na Bíblia e em Homero antes de aparecer em Balzac, por exemplo. Esses dois períodos são vistos como “homogêneos”, mas tem características do romantismo e também do simbolismo, isso se explica porque no XIX houve uma grande recusa à periodização precisa. As escolas mais diversas acabam por se assemelhar devido a outros motivos, pelas transformações que aqui ocorreram terem sido o reflexo de ideias estrangeiras.
            O Romantismo se prolongou por tempos após o século XIX, ele em contrapartida ao Classicismo, promove essa oscilação entre objetividade e subjetividade, porém nesta época o que teve realmente lugar foi a tríade Realismo-Naturalismo-Paranasianismo, grupo este que reagiu contra o apelo romântico, tendo como inimigo o grande filho do Romantismo, o Simbolismo.
            Devido aos estudos de cunho científico, os homens deste século se voltaram para a devoção às coisas materiais, a teoria de Darwin tornou-se uma religião, o mundo se tornou mecânico devido à ascensão da indústria, e as ideias do livre pensamento com relação à religião tornaram-se uma constante. As ciências sociais se aliaram às biológicas e naturais, trabalhando juntas em estudos dos fatos humanos e sociais.
            No século XIX, as ideias que reinavam eram as do iluminismo, liberalismo, positivismo, naturalismo, contra-espiritualismo e da ciência e do progresso, uma ebulição do materialismo. A teoria da evolução darwiniana fez da biologia a mola propulsora do pensamento do homem desta época, mudando concepções e métodos, transformando–os num sentido naturalista. A partir desta teoria os homens passaram a ser vistos como células reunidas num grande composto, a sociedade.
            No que tange à literatura, “realista’ deriva de real, encarar os fatos tais como o são na realidade, opondo-se ao idealismo no romantismo, essa corrente apresenta em suas obras as características dos opostos: bem e mal, beleza e feiúra, rudeza e requinte, isso pelo compromisso com a verdade, com o que existe e que é palpável.
            Realismo é antes de tudo uma tendência, um estado de espírito e não algo estanque, acabado. Apresenta a verdade, tem como característica a verossimilhança, foge do sentimentalismo e do artificial, idealizado. Faz o retrato real de seus personagens, estes que são humanos, completos, têm vida, emoções reais e não artificiais e forçadas como se vê no período romântico. No realismo não ocorre intromissão subjetiva do autor em seu texto, ele não infere seus sentimentos nos dos personagens, essa escola retrata a vida tal como ela é. Os homens e seus conflitos são seus principais assuntos, proporcionando uma precisão e fidelidade ao real. A narrativa “real” é minuciosa, dá ênfase à caracterização ao invés da ação e sua linguagem é a mais próxima da realidade.
            O Naturalismo é visto como o realismo acrescido de uma visão materialista do homem do homem e da sociedade, isso amparado pela cientificidade. Para a literatura esse período se vale dos métodos de observação e experimentação no trabalho dos fatos e das personagens, agora o homem não é estudado de maneira abstrata, mas como objeto das leis físico-químicas e influenciado pelo meio que vive. Nas obras naturalistas as camadas mais baixas da sociedade são um dos grandes assuntos dos escritores, a sociedade não mais idealizada, romântica e muito mais do que real, escancarada.
            São características desse polêmico momento literário: o amor pela natureza e pela beleza natural, a fidelidade ao natural, uma ideia naturalista da vida, o homem em seus aspectos fisiológicos, semelhança do homem ao animal desprovido de razão. O homem é o objeto do naturalista, que é observado como um “caso” a ser analisado, impessoalmente e objetivamente, ele e seu meio são vistos como realmente são e não influenciados pela ótica do subjetivo. A vida, para o naturalista, é o reflexo do movimento de forças mecânicas sobre os homens, que resulta nos atos, caráter e destino dos mesmos. Este movimento não durou mais do que a década de 80 do século XIX.
            O Parnasianismo foi o movimento referente à poesia na época da prosa realista-naturalista. Esse movimento objetivista concentrou-se num apelo à forma, à técnica, contrário à inspiração e ao essencial romântico, ou seja, a “arte pela arte”.
            A França teve grande influência cultural no Brasil, trouxe, além de outras, as ideias modernas do século XIX, influenciadas pelo Iluminismo, tinham tendências racionais, materiais de libertação do pensamento. A maçonaria foi um instrumento de grande força na propagação desses ideais, favorecendo até a circulação de livros que foram censurados por órgãos de censura no Brasil. Os jovens que frequentavam os centros de cultura, academias e universidades do Brasil, em sua grande maioria, tinham contato com os grandes centros de cultura europeus, o que favoreceu a disseminação dos ideais de racionalismo, anticlericalismo, materialismo e laicização, os grandes focos de propagação dessas ideias foram São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Bahia. Esse pensamento moderno atingiu também a América Espanhola e Portugal.
            Nessa época de modificação, o autor português Eça de Queiroz teve grande influência no Brasil literário. Suas obras “O Crime do Padre Amaro” e “O Primo Basílio” foram um dos ícones da estética realista-naturalista. A influência de Eça se dá na temática, maneira, estilo e na ironia, isso se verifica nas obras posteriores às duas já citadas, como por exemplo “O mulato” de Aluísio de Azevedo.
            O Brasil sofreu grandes modificações nessa época de transição, a civilização que antes era agrária e latifundiária se tornou burguesa e urbana, em processo de industrialização. Nesse processo já se vê o homem urbano e proletário, as transformações no âmbito da antropologia social deram-se pela abolição da escravatura.
            Quanto ao realismo no Brasil é possível descriminar certos padrões: o padrão biográfico, onde se dá maior importância à caracterização dos personagens e à descrição de sua vida, fazendo com que o protagonista seja enaltecido, o que é a intenção do ficcionista realista; o padrão regional, onde traços de uma região são caracterizados; o padrão ambiental, um quadro geográfico é aí representado, e o padrão psicológico, onde ocorre a resolução de uma situação subjetiva. As temáticas dessa escola foram os problemas sociais e o regionalismo, caracterizado pela dureza e da vida rural brasileira e a desesperança e o desencanto. O regionalismo é visto como a vitória da natureza sobre o homem.
            Esse período da literatura foi marcante no processo de nacionalização da literatura, a visão da realidade brasileira trouxe também a valorização da pátria e do que é nosso. Como gênero literário, o romance se moldou perfeitamente à proposta realista, mas assim como no Naturalismo, o conto e o teatro também encontraram refúgio. Dentre os inúmeros autores, é de suma importância citar Machado de Assis e Raul Pompéia, que além de realistas são também naturalistas