quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Realismo, Naturalismo e Parnasianismo


           Patrícia Adriana Corrente

             O século XIX foi o de maior riqueza cultural no Brasil, Realismo e o Naturalismo são movimentos dessa época, porém já se viu realismo na Bíblia e em Homero antes de aparecer em Balzac, por exemplo. Esses dois períodos são vistos como “homogêneos”, mas tem características do romantismo e também do simbolismo, isso se explica porque no XIX houve uma grande recusa à periodização precisa. As escolas mais diversas acabam por se assemelhar devido a outros motivos, pelas transformações que aqui ocorreram terem sido o reflexo de ideias estrangeiras.
            O Romantismo se prolongou por tempos após o século XIX, ele em contrapartida ao Classicismo, promove essa oscilação entre objetividade e subjetividade, porém nesta época o que teve realmente lugar foi a tríade Realismo-Naturalismo-Paranasianismo, grupo este que reagiu contra o apelo romântico, tendo como inimigo o grande filho do Romantismo, o Simbolismo.
            Devido aos estudos de cunho científico, os homens deste século se voltaram para a devoção às coisas materiais, a teoria de Darwin tornou-se uma religião, o mundo se tornou mecânico devido à ascensão da indústria, e as ideias do livre pensamento com relação à religião tornaram-se uma constante. As ciências sociais se aliaram às biológicas e naturais, trabalhando juntas em estudos dos fatos humanos e sociais.
            No século XIX, as ideias que reinavam eram as do iluminismo, liberalismo, positivismo, naturalismo, contra-espiritualismo e da ciência e do progresso, uma ebulição do materialismo. A teoria da evolução darwiniana fez da biologia a mola propulsora do pensamento do homem desta época, mudando concepções e métodos, transformando–os num sentido naturalista. A partir desta teoria os homens passaram a ser vistos como células reunidas num grande composto, a sociedade.
            No que tange à literatura, “realista’ deriva de real, encarar os fatos tais como o são na realidade, opondo-se ao idealismo no romantismo, essa corrente apresenta em suas obras as características dos opostos: bem e mal, beleza e feiúra, rudeza e requinte, isso pelo compromisso com a verdade, com o que existe e que é palpável.
            Realismo é antes de tudo uma tendência, um estado de espírito e não algo estanque, acabado. Apresenta a verdade, tem como característica a verossimilhança, foge do sentimentalismo e do artificial, idealizado. Faz o retrato real de seus personagens, estes que são humanos, completos, têm vida, emoções reais e não artificiais e forçadas como se vê no período romântico. No realismo não ocorre intromissão subjetiva do autor em seu texto, ele não infere seus sentimentos nos dos personagens, essa escola retrata a vida tal como ela é. Os homens e seus conflitos são seus principais assuntos, proporcionando uma precisão e fidelidade ao real. A narrativa “real” é minuciosa, dá ênfase à caracterização ao invés da ação e sua linguagem é a mais próxima da realidade.
            O Naturalismo é visto como o realismo acrescido de uma visão materialista do homem do homem e da sociedade, isso amparado pela cientificidade. Para a literatura esse período se vale dos métodos de observação e experimentação no trabalho dos fatos e das personagens, agora o homem não é estudado de maneira abstrata, mas como objeto das leis físico-químicas e influenciado pelo meio que vive. Nas obras naturalistas as camadas mais baixas da sociedade são um dos grandes assuntos dos escritores, a sociedade não mais idealizada, romântica e muito mais do que real, escancarada.
            São características desse polêmico momento literário: o amor pela natureza e pela beleza natural, a fidelidade ao natural, uma ideia naturalista da vida, o homem em seus aspectos fisiológicos, semelhança do homem ao animal desprovido de razão. O homem é o objeto do naturalista, que é observado como um “caso” a ser analisado, impessoalmente e objetivamente, ele e seu meio são vistos como realmente são e não influenciados pela ótica do subjetivo. A vida, para o naturalista, é o reflexo do movimento de forças mecânicas sobre os homens, que resulta nos atos, caráter e destino dos mesmos. Este movimento não durou mais do que a década de 80 do século XIX.
            O Parnasianismo foi o movimento referente à poesia na época da prosa realista-naturalista. Esse movimento objetivista concentrou-se num apelo à forma, à técnica, contrário à inspiração e ao essencial romântico, ou seja, a “arte pela arte”.
            A França teve grande influência cultural no Brasil, trouxe, além de outras, as ideias modernas do século XIX, influenciadas pelo Iluminismo, tinham tendências racionais, materiais de libertação do pensamento. A maçonaria foi um instrumento de grande força na propagação desses ideais, favorecendo até a circulação de livros que foram censurados por órgãos de censura no Brasil. Os jovens que frequentavam os centros de cultura, academias e universidades do Brasil, em sua grande maioria, tinham contato com os grandes centros de cultura europeus, o que favoreceu a disseminação dos ideais de racionalismo, anticlericalismo, materialismo e laicização, os grandes focos de propagação dessas ideias foram São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Bahia. Esse pensamento moderno atingiu também a América Espanhola e Portugal.
            Nessa época de modificação, o autor português Eça de Queiroz teve grande influência no Brasil literário. Suas obras “O Crime do Padre Amaro” e “O Primo Basílio” foram um dos ícones da estética realista-naturalista. A influência de Eça se dá na temática, maneira, estilo e na ironia, isso se verifica nas obras posteriores às duas já citadas, como por exemplo “O mulato” de Aluísio de Azevedo.
            O Brasil sofreu grandes modificações nessa época de transição, a civilização que antes era agrária e latifundiária se tornou burguesa e urbana, em processo de industrialização. Nesse processo já se vê o homem urbano e proletário, as transformações no âmbito da antropologia social deram-se pela abolição da escravatura.
            Quanto ao realismo no Brasil é possível descriminar certos padrões: o padrão biográfico, onde se dá maior importância à caracterização dos personagens e à descrição de sua vida, fazendo com que o protagonista seja enaltecido, o que é a intenção do ficcionista realista; o padrão regional, onde traços de uma região são caracterizados; o padrão ambiental, um quadro geográfico é aí representado, e o padrão psicológico, onde ocorre a resolução de uma situação subjetiva. As temáticas dessa escola foram os problemas sociais e o regionalismo, caracterizado pela dureza e da vida rural brasileira e a desesperança e o desencanto. O regionalismo é visto como a vitória da natureza sobre o homem.
            Esse período da literatura foi marcante no processo de nacionalização da literatura, a visão da realidade brasileira trouxe também a valorização da pátria e do que é nosso. Como gênero literário, o romance se moldou perfeitamente à proposta realista, mas assim como no Naturalismo, o conto e o teatro também encontraram refúgio. Dentre os inúmeros autores, é de suma importância citar Machado de Assis e Raul Pompéia, que além de realistas são também naturalistas 

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