Olá a todos! Este blog traz alguns trabalhos sobre literatura brasileira de um modo geral, tem a intenção de trazer novas ideias e acepções sobre obras literárias e conceitos literários deste país. Espero que gostem e façam bom uso deste material!
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
Simplesmente, Leminski
A lua no cinema (Paulo Leminski)
A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.
Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!
Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.
A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
que até hoje a lua insiste:
- Amanheça, por favor!
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.
Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!
Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.
A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
que até hoje a lua insiste:
- Amanheça, por favor!
Lemisnki e a poesia etária
Barthes e a morte do autor
Patrícia Adriana Corrente
Num
contexto de escritura de uma obra literária, a ideia de morte do autor remete à
destruição de toda voz, todo sujeito subjetivo que ressoa pelos ouvidos da
escrita. A partir do momento em que o autor morre, a obra inicia sua própria
escritura. Para que isso ocorra, o autor deve ser encarado como um mediador da
escrita e não como autor daquelas palavras.
Porém, ele ainda é muito solicitado
em biografias, entrevista e na consciência dos literatos que teimam em juntar a
pessoa e a obra, busca-se ainda uma ’explicação’ da obra como se apenas a voz
do autor ressoasse na obra. Mallarmé na França iniciou o trabalho de dar à língua e à linguagem o seu lugar na confecção de uma obra literária, dando ao
autor uma impessoalidade. Proust não se doou em suas obras, mas retirou dos
romances sua própria vida.
Com o Surrealismo, a ideia de autor
teve pouca importância, ao subverter o código (língua), a escrita era menos
formal, mais automática, menos inspiradora, fruto de uma experiência coletiva,
de vários “eus”. Partindo para um argumento linguístico onde é visto que a
enunciação fala por si só, sem que haja a necessidade de preenchê-la com a
pessoa do interlocutor, perde-se a “pessoa” e ganha-se o “sujeito” e este basta
para a linguagem, o que acaba também por “matar” o autor.
Quando se acredita no autor, levando
em conta uma concepção temporal, vê-se nele um passado que vive antes de sua
obra, a relação entre obra e autor é a de um pai para seu filho, e já no texto
moderno o autor é visto como alguém que nasce com sua obra, ele existe no tempo
da enunciação do texto, o texto é escrito aqui
e agora, nesse sentido a escrita não é mais uma espécie de registro
biográfico do autor.
O texto é um emaranhado de outros
textos que conversam entre si para não produzir um sentido único, mas vários.
Ele é composto por várias citações extraídas das muitas culturas, o que o texto
diz pelas mãos do escritor é sempre o que já foi dito em algum momento sempre
anterior, e sua fala nunca é original. Dar autoria ao texto é dar-lhe um único
significado, uma explicação. A partir do momento em que se crê na escritura
múltipla, não há nada para ser decifrado, não há segredo a ser descoberto e por
fim ocorre a recusa a "deus".
O texto é a fonte de várias
escrituras, de várias vozes que dialogam entre si e se reúnem num só lugar, que
não é o do autor, mas o do leitor, este que também traz as suas escritas e suas
leituras, a unidade do texto está em seu destino: o do ouvinte final. Pouco se
deu importância à figura do leitor, mas muito à figura do autor. Com a morte do
autor, nasce o leitor.
Referência:
BARTHES, Roland. O
Rumor da Língua. A morte do autor.
Realismo, Naturalismo e Parnasianismo
Patrícia Adriana Corrente
O
século XIX foi o de maior riqueza cultural no Brasil, Realismo e o Naturalismo
são movimentos dessa época, porém já se viu realismo na Bíblia e em Homero antes
de aparecer em Balzac, por exemplo. Esses dois períodos são vistos como
“homogêneos”, mas tem características do romantismo e também do simbolismo,
isso se explica porque no XIX houve uma grande recusa à periodização precisa.
As escolas mais diversas acabam por se assemelhar devido a outros motivos, pelas
transformações que aqui ocorreram terem sido o reflexo de ideias estrangeiras.
O Romantismo se prolongou por tempos
após o século XIX, ele em contrapartida ao Classicismo, promove essa oscilação
entre objetividade e subjetividade, porém nesta época o que teve realmente
lugar foi a tríade Realismo-Naturalismo-Paranasianismo, grupo este que reagiu
contra o apelo romântico, tendo como inimigo o grande filho do Romantismo, o
Simbolismo.
Devido aos estudos de cunho
científico, os homens deste século se voltaram para a devoção às coisas
materiais, a teoria de Darwin tornou-se uma religião, o mundo se tornou
mecânico devido à ascensão da indústria, e as ideias do livre pensamento com
relação à religião tornaram-se uma constante. As ciências sociais se aliaram às
biológicas e naturais, trabalhando juntas em estudos dos fatos humanos e
sociais.
No século XIX, as ideias que
reinavam eram as do iluminismo, liberalismo, positivismo, naturalismo,
contra-espiritualismo e da ciência e do progresso, uma ebulição do
materialismo. A teoria da evolução darwiniana fez da biologia a mola propulsora
do pensamento do homem desta época, mudando concepções e métodos,
transformando–os num sentido naturalista. A partir desta teoria os homens
passaram a ser vistos como células reunidas num grande composto, a sociedade.
No que tange à literatura,
“realista’ deriva de real, encarar os fatos tais como o são na realidade, opondo-se
ao idealismo no romantismo, essa corrente apresenta em suas obras as
características dos opostos: bem e mal, beleza e feiúra, rudeza e requinte,
isso pelo compromisso com a verdade, com o que existe e que é palpável.
Realismo é antes de tudo uma
tendência, um estado de espírito e não algo estanque, acabado. Apresenta a
verdade, tem como característica a verossimilhança, foge do sentimentalismo e
do artificial, idealizado. Faz o retrato real de seus personagens, estes que
são humanos, completos, têm vida, emoções reais e não artificiais e forçadas
como se vê no período romântico. No realismo não ocorre intromissão subjetiva
do autor em seu texto, ele não infere seus sentimentos nos dos personagens,
essa escola retrata a vida tal como ela é. Os homens e seus conflitos são seus
principais assuntos, proporcionando uma precisão e fidelidade ao real. A
narrativa “real” é minuciosa, dá ênfase à caracterização ao invés da ação e sua
linguagem é a mais próxima da realidade.
O Naturalismo é visto como o realismo
acrescido de uma visão materialista do homem do homem e da sociedade, isso
amparado pela cientificidade. Para a literatura esse período se vale dos
métodos de observação e experimentação no trabalho dos fatos e das personagens,
agora o homem não é estudado de maneira abstrata, mas como objeto das leis
físico-químicas e influenciado pelo meio que vive. Nas obras naturalistas as
camadas mais baixas da sociedade são um dos grandes assuntos dos escritores, a
sociedade não mais idealizada, romântica e muito mais do que real, escancarada.
São características desse polêmico
momento literário: o amor pela natureza e pela beleza natural, a fidelidade ao
natural, uma ideia naturalista da vida, o homem em seus aspectos fisiológicos,
semelhança do homem ao animal desprovido de razão. O homem é o objeto do naturalista,
que é observado como um “caso” a ser analisado, impessoalmente e objetivamente,
ele e seu meio são vistos como realmente são e não influenciados pela ótica do
subjetivo. A vida, para o naturalista, é o reflexo do movimento de forças
mecânicas sobre os homens, que resulta nos atos, caráter e destino dos mesmos.
Este movimento não durou mais do que a década de 80 do século XIX.
O Parnasianismo foi o movimento
referente à poesia na época da prosa realista-naturalista. Esse movimento objetivista
concentrou-se num apelo à forma, à técnica, contrário à inspiração e ao
essencial romântico, ou seja, a “arte pela arte”.
A França teve grande influência
cultural no Brasil, trouxe, além de outras, as ideias modernas do século XIX,
influenciadas pelo Iluminismo, tinham tendências racionais, materiais de
libertação do pensamento. A maçonaria foi um instrumento de grande força na
propagação desses ideais, favorecendo até a circulação de livros que foram
censurados por órgãos de censura no Brasil. Os jovens que frequentavam os
centros de cultura, academias e universidades do Brasil, em sua grande maioria,
tinham contato com os grandes centros de cultura europeus, o que favoreceu a
disseminação dos ideais de racionalismo, anticlericalismo, materialismo e
laicização, os grandes focos de propagação dessas ideias foram São Paulo, Rio
de Janeiro, Recife e Bahia. Esse pensamento moderno atingiu também a América
Espanhola e Portugal.
Nessa época de modificação, o autor
português Eça de Queiroz teve grande influência no Brasil literário. Suas obras
“O Crime do Padre Amaro” e “O Primo Basílio” foram um dos ícones da estética
realista-naturalista. A influência de Eça se dá na temática, maneira, estilo e
na ironia, isso se verifica nas obras posteriores às duas já citadas, como por
exemplo “O mulato” de Aluísio de Azevedo.
O Brasil sofreu grandes modificações
nessa época de transição, a civilização que antes era agrária e latifundiária
se tornou burguesa e urbana, em processo de industrialização. Nesse processo já
se vê o homem urbano e proletário, as transformações no âmbito da antropologia
social deram-se pela abolição da escravatura.
Quanto ao realismo no Brasil é
possível descriminar certos padrões: o padrão biográfico, onde se dá maior
importância à caracterização dos personagens e à descrição de sua vida, fazendo
com que o protagonista seja enaltecido, o que é a intenção do ficcionista realista;
o padrão regional, onde traços de uma região são caracterizados; o padrão
ambiental, um quadro geográfico é aí representado, e o padrão psicológico, onde
ocorre a resolução de uma situação subjetiva. As temáticas dessa escola foram
os problemas sociais e o regionalismo, caracterizado pela dureza e da vida
rural brasileira e a desesperança e o desencanto. O regionalismo é visto como a
vitória da natureza sobre o homem.
Esse período da literatura foi
marcante no processo de nacionalização da literatura, a visão da realidade
brasileira trouxe também a valorização da pátria e do que é nosso. Como gênero
literário, o romance se moldou perfeitamente à proposta realista, mas assim
como no Naturalismo, o conto e o teatro também encontraram refúgio. Dentre os
inúmeros autores, é de suma importância citar Machado de Assis e Raul Pompéia,
que além de realistas são também naturalistas
Por uma Literatura Nacional - Histórico
A
Literatura Nacional, passou por várias fases para chegar até os dias de hoje,
sempre na busca de uma identidade própria, não uma cópia do modelo europeu, ou
estadunidense mas sim uma literatura tupiniquim, de nossa gente, com nossas
experiências, enfim, uma literatura que reflita a realidade brasileira. Nesse
trabalho vamos levantar três fases da literatura e abordar as várias formas em que
se defendeu a literatura nacional.
INDIANISMO
Nessa
primeira fase do modernismo, a necessidade de uma literatura original e
nacional fez com que os escritores adotassem um “herói”, nesse caso o Índio,
uma inegável parte da sociedade, um ser de nacionalidade pura, bom por natureza
e por origem, embasados nos moldes europeus. Mas se pode notar que, eles não
tiveram a preocupação em trazer o negro para os escritos, pois todos os homens
da sociedade daquela época os consideravam sem-alma, não humanos e valorizá-los
poderia ser considerado um crime, e tinham pelo índio uma certo apreço.
O
Indianismo não erá só um movimento de reação nativista, mas além disso, de
autonomia, de busca pela nacionalidade, após a Independência, o índio era
livre na visão dos indianistas, ao contrário do negro que servia apenas ao
trabalho, é um tanto quanto contraditória essa tese de que se deve
valorizar o índio perante a literatura e não o negro, afinal de contas, o negro
foi um dos pilastres do Brasil.
Os percursores do Indianismo e, por consequência, do Romantismo foram José de Alencar, este o maior dos indianistas, e Gonçalves
Dias, mas antes deles já se falava em indianismo e busca pela literatura de
origem nacional, seja para combater a dominação portuguesa, ou para uma identificação do ser de origem. O
indianismo deu impulso à literatura, divulgou a literatura daqui, traduzindo
essa realidade econômica e social e fundamentalmente, deu cara nova ao
romantismo, antes copiado da Europa.
O interessante do movimento indianista é que
teoricamente ele não passou das histórias e do desejo de intelectuais, pois o
índio não obteve privilégios, pelo contrário, levando em conta os estudos,
pensando em toda a história do Brasil, o Índio perdeu e muito, perdeu sua
cultura, sua identidade, sua autonomia, enfim o índio fora violentado por um
povo que invadiu suas terras e estuprou suas mulheres, mas elevando-o à condição de herói apagaria toda a miséria
que antes havia feito? Talvez o movimento indianista possa soar um como um pedido de desculpas.
Mas tendo pelo ponto de vista o escritor que
escreve em prol de um ideal, pensamos
que elevar o índio a herói foi uma necessidade de resgate cultural, visto que
a cultura nacional estava nas mãos
indígenas e não nas dos colonizadores, era uma busca ao que é daqui, ao que é
naturalmente brasileiro.
José de Alencar fora por muitos considerado como
ofensor da história e da verdade, pois não retratou o índio sob a realidade,
mas sim sob uma ótica guerreira e heróica, endeusado, porém isso não afetou o prestígio que o autor obteve, a
preferência de suas leituras são as que tratavam do indígena, sem dúvida. Gonçalves
Dias foi o melhor poeta que retratou o índio, em sua obra o indígena foi o
assunto que mais tocou o leitor, Dias eternizou o índio e o incrustou na literatura
.Depois desses dois autores terem retratado o índio à sua maneira lírica ou
subjetiva o indianismo recaiu, dando espaço a outros temas dentro do
romantismo. É certo que os índios Guarani, Iracema, do romantismo, são bem diferentes do índio moderno Macunaíma, que também tenta representar a cultura nacional,
porém satiriza o próprio brasileiro, pela figura do índio-herói, anti-herói.
MODERNISMO
O Modernismo abrange três
aspectos intimamente ligados, o primeiro é o movimento o segundo uma estética e
o terceiro um período.
Em 1922, em São Paulo, ocorreu a Semana de Arte
Moderna e deu-se origem ao movimento que se ramificou por todo o país, vale
lembrar que esse movimento foi de ruptura, assim como o romantismo, que rompeu
com o plano formal e temático da nossa literatura.
O Modernismo foi um movimento que acompanhou seu
tempo, pois fazia alusão às mudanças tecnológicas do período histórico, em
nossa opinião essa característica do movimento é positiva, pois retrata a
realidade nua e crua e foge dos padrões antes impostos.
No entanto, o movimento não pregava que era necessário esquecer completamente o que vinha de fora, mas sim filtrar e se apropriar do que é bom, isso se observa
no Manifesto Antropofágico Esse manifesto foi um “soco na cara “
dos literatos do momento, pois foi totalmente inovador e agressivo aos que não
estavam adaptados à nova tendência.
No Modernismo aparece um novo herói indígena, o Macunaíma, por exemplo, assim como
no romantismo. Quando é falado no índio, ele é retratado sob um outro foco, o
índio deixa de ser o guerreiro do romantismo e passa a ser o preguiçoso do
modernismo, o nacionalismo, sob essa ótica, é visto de forma negativa pois esse
novo herói é uma observação desprivilegiada da própria sociedade brasileira.
Esteticamente falando, o movimento deixa de
lado o lirismo do romantismo e
estabelece uma nova tendência mais livre, onde os autores expressam seus
sentimentos de forma aberta e inovadora, mantendo como pano de fundo o contexto
social, histórico e econômico da época. Essa prática
inovadora só veio a contribuir para a literatura nacional, visto que essa forma
dá liberdade tanto aos leitores quanto aos artistas, onde cada um pode
retratar, pensar e analisar o que bem entender de cada obra, sem medo das
repressões que poderiam vir a ser impostas pela sociedade cultural da época.
O que a
Antropofagia propôs era uma não rejeição completa à cultura européia,
mas sim superá-la assimilando e mastigando o que ela tem de bom, e recriando
novos aspectos literários de acordo com os artistas nacionais da época, tentando, dessa maneira, superar de qualquer modo a imposição da cultura social e
literária europeia do período.
TROPICÁLIA
O Tropicalismo foi um movimento essencialmente
musical, onde os estilos eram basicamente e inteiramente de raízes
brasileiras, não pendendo, de maneira
nenhuma, para as inclinações da estilística cultural e literária europeia Possuía expressão literária nacional e teve como pano de fundo a época do
golpe militar, do Ato Institucional, A I 5, nos anos de 1964 a 1968. Esse Ato
determinou, entre outras imposições, a censura cultural nacional.
Foi um movimento totalmente revolucionário,
podendo-se dizer de “esquerda”, pois rompeu com o estilo da MPB regida pela
Bossa Nova, e trouxe críticas ao governo vigente da época, visto que vários
artistas foram exilados do país e proibidos de exercerem suas funções. De acordo
com o AI 5, os artistas tinham que se submeter a escrever o que pensavam de
maneira subliminar, cabendo aos ouvintes e leitores entender o que o autor ou
artista quis estabelecer nas entrelinhas dos textos musicais, se fosse a vontade do mesmo.
Esse movimento foi de grande
valor para a literatura e para a cultura do país, mas foi trágico e triste, visto
que a vontade de gritar era grande, mas a censura também, cabia aos artistas
calarem-se.
As músicas Cálice, de Chico Buarque e Pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré, são exemplos nítidos da repressão ao artista e ao
movimento.
Os artistas dessa época, na maioria das vezes, estavam
no auge de sua juventude, onde explodiam as ideias de reformulação da cultura e
da política nacional, muitos não concordavam com a imposição governamental e
desejavam o rompimento dessa repressão, tanto social quanto cultural.
A repressão prejudicou e muito o
desenvolvimento da cultura, pois livros tiveram de serem publicados em outras
épocas, e músicas forma banidas pela censura, tirando o privilégio da população
de usufruir da boa arte ou da boa música que deixaram de serem publicadas.
Estes três movimentos de
alguma maneira estão intimamente interligados, pois são sequências literárias
que dependem umas das outras e defendem a literatura nacional, defendem o que é
do povo brasileiro, são relatos de suas experiências, literatura de suas
realidades e pensamentos e vontades a serem exprimidos nas obras que fluíram no
período cultural e vigente da época.
BIBLIOGRAFIA:
CANDIDO A . e CASTELLO A . José, “Presença da Cultura Brasileira”, 6ª ed., Rio de janeiro – São Paulo, 1977.
SODRÉ W. Nelson, “História da Literatura
Brasileira”, 5ª ed., Rio de Janeiro, 1969.
CADORE A . Luís, “Curso Prático de Português”, São Paulo, 1998.
Análise do conto A Moça Tecelã
Patrícia Adriana Corrente
Colasanti
retrata um diferente tipo de perfil feminino nesse conto, por recursos de uma
fábula, a mulher independente, que constrói a cada dia seus sonhos, a mulher que
se basta por si mesma, que consegue perceber a interferência negativa do homem
em sua vida, e muda a situação a tempo, porém também retrata a mulher
apaixonada “cega” de amores pelo seu homem, que faz seus gostos por amor, por
acreditar em seus sonhos, para tê-lo ao seu lado.
A moça, no
conto, é delicada, sensível, criativa, simples, não tem ganância, vive feliz em
sua vida, dependendo afetivamente e socialmente só de si mesma. Ao fazer seu
tempo e seu espaço, a moça traz, constrói, a necessidade de companhia, de um
homem para crescer ao seu lado; ela trouxe alguém para a sua vida, um
companheiro, talvez porque, a sociedade a impôs isso, a presença de um homem na
vida de uma mulher, ela achou que realmente precisasse.
O homem,
ambicioso, ganancioso, dominador e autoritário, entrou na vida da moça, com
todos os seus desejos, não os mesmos da moça, mas, desejos materiais, não os de
felicidade, mas de enriquecimento supérfluo. A moça moldou um homem para si, da
maneira que viesse, usufruindo de suas qualidades e virtudes para seu bem
próprio, sua satisfação pessoal. A moça, por algum tempo, submeteu-se aos
caprichos do marido, fez para agradar, mas já não tinha vida, vivia para ele,
perdeu sua identidade, sua autenticidade, simplicidade.
Percebeu,
então, que o homem em nada havia acrescentado em sua vida, mas pelo contrario,
deteve sua liberdade em se expressar, seus sonhos ele não valorizou, suas
vontades ele fez como se não tivesse ouvido. A moça teve a autonomia de tomar
sua vida para si, “desfez”o homem de sua vida, se impôs e voltou a sua antiga
vida, onde era realmente feliz e realizada, sem a necessidade de um homem.
O homem, não a
desejava, mas sim, tudo o que ela podia lhe proporcionar, lhe oferecer com seu
mágico poder de tecer a vida, ele não admitiu a moça ter esse poder, não lhe
cabe, o homem sentiu-se ameaçado, enclausurou-a, mas não se deu conta que ela
ainda tinha consciência do que acontecia e de sua insatisfação.
A Moça tecelã é
a representação da mulher autônoma, que vai à busca de seus objetivos, é o
retrato da mulher que não se cala, não se acomoda e nem se submete à possível
“autoridade” masculina.
Particularmente, o conto de Marina Colasanti me fez refletir sobre o amor em contraponto com a
liberdade, ou seja, até que ponto um sentimento vale a liberdade,ou, o que é o
amor para um é é prisão para o outro. Esse conto levanta dezenas de questões do
universo feminino, dos sentimentos; do trabalho escravo, da submissão de um ser
em relação a outro por prazer ou por comodidade; dos valores que cada ser tem
ou não.
As grandes
dualidades presentes neste conto são: liberdade/amor; valores
materiais/afetividade; autonomia/submissão, tendo em vista essas dualidades
citadas, verifico que a obra esta mais presente do que nunca em nossa vida
cotidiana, o ser humano é um ser de contradições, é um ser suscetível a erros e
a corrupção, claro que em uma abrangência maior. Não se adapta tão somente ao
homem o poder de ser corrompido, mas também à mulher, porém se verifica no
conto uma mulher meiga, de sentimentos puros e fraternos, de muitos sonhos e
esperanças.
A situação de
servidão da mulher perante ao homem, também é um fator marcante na obra, pode
levar a questões sociais tão presentes no mundo de hoje, quanto antigamente, o
trabalho escravo desempenhado por crianças, homens e mulheres em nosso país, e
em regiões desprevilegiadas socilamente. A condição de submissão é imposta e
não oferecida pelo corrupto, mas nesse conto prefiro levantar a situação de
submissão de uma mulher que se carateriza por dona-de casa, a mulher que é
obrigada a servir seu marido, obrigada a viver em um mundo que só é completo
para ele. No desfecho do conto ocorre uma situação atípica, pois na
maioria das vezes, em nossa realidade, a mulheres não conseguem se desvencilhar
das amarras de um homem autoritário, vivem subjugadas aos seus caprichos, talvez
por uma imposição social patriarcal ou pelo receio do novo, de uma vida
independente.
Com relação, novamente, aos personagens a Moça e o Homem, verificou-se
que não possuem nomes, isso nos leva a pensar que se caracterizam por tipos,
representações de nossa sociedade, daí a proximidade do conto com a realidade,
sucessivamente a proximidade do leitor com a obra., são seres que vivem dentro
de uma fábula, poderia até dizer um conto-de fadas às avessas, mas que fazem
parte da realidade de nossas vidas, Colasanti se valeu de uma fábula para
representar o sentimento de muitas pessoas, as dores e talvez até o sofrimento
de algumas mulheres.
O espaço e o tempo são marcantes na obra, pois eles se determinam
conforme a vontade da moça, por intermédio do tear, se ela quer comer ela tece,
se quer sol, ela tece, com quis uma companhia ela teceu, mas nesse momento
ocorre uma ruptura, pois a partir do momento em que teceu seu homem, perdeu a
vontade de tecer, pois tecia apenas os gostos de seu homem e para ele. O tear
que antes era seu companheiro tornou-se instrumento do homem, para seu uso, mas
com a habilidade da moça. No decorrer das leituras, verifiquei algo interessante,
o espaço em que a moça é colocada pelo homem, “o mais alto quarto da mais alta
torre”, se assemelha com um espaço muito conhecido e estigmatizado como
feminino, a cozinha, espaço este que por muitos tempos era "único em que a
mulher se sentia segura, e talvez por imposição era o espaço que mais
frequentava". Assim como a moça do conto que fora submetida ao quarto no alto,
longe de todos, para que ninguém soubesse do seu “poder" do tear, muitas
mulheres são enclausuradas dentro de espaços ou dentro de si mesmas, por outras
pessoas, afim de que não sejam descobertas por outros olhares. Colasanti
consegue representar muito bem isso no conto.
Enfim, a
moça tecelã está presente nas mães, filhas, empresárias, donas-de-casa e
esposas de todos os dias, e não é por obra do acaso que a mulher continua sendo
um ser misterioso e intrigante, presente sempre no mundo literário.
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
As mulheres de Marina Colasanti
Patrícia Adriana Corrente
Marina Colasanti é uma das escritoras mais importantes da literatura brasileira, palestrante requisitada, ensaísta, contista, autora e um dos maiores nomes em termos de escrita feminina, dentre suas obras destacam-se as coletâneas de contos: Penélope manda lembranças, O Leopardo é um animal delicado, Contos de amor rasgados, dentre outras. Nesse artigo irá se observar a postura e papel de três personagens femininos em três contos de Colasanti: “Para que ninguém a quisesse”, “A moça tecelã” e “Luz de lanterna, sopro de vento”, respectivamente das coletâneas de contos: “Contos de um amor rasgado”; “Doze reis e a moça no labirinto do vento” e “Um espinho de marfim e outras histórias”.
Colasanti procura discutir comportamentos estigmatizados dentro da cultura há séculos, que sugerem um papel secundário à mulher e diversos âmbitos sociais, sua obra assim caracteriza-se como representação da experiência social feminina. A autora crê que vai se levar mais de um século para se modificar a maneira como os homens retrataram a mulher ao longo dos anos e essa tarefa caberá às escritoras. Marina Colasanti combate a escrita feminina “mulherzinha” que não é a melhor maneira de retratar a mulher, pois assim assemelha-se a uma caricatura, algo cômico, assim a mulher não marca presença no mundo literário. Com sua sensibilidade, Colasanti explora os abismos da alma feminina, suas obras provocam a reflexão, uma viagem dentro de nós mesmos, evoca os sentimentos, as relações, as realidade do cotidiano, isso a tornando uma escritora que proporciona uma identificação com seu leitor.
A análise das personagens femininas nesse trabalho se dará por meio de um tipo de narrativa, o conto:
“É uma narrativa mais curta que tem como característica central condensar conflito, tempo, espaço e reduzir o numero de personagens. O conto é um tipo de narrativa tradicional [...], ainda que tenha adquirido características diferentes, por exemplo, deixar de lado a intenção moralizante a adotar o fantástico ou o psicológico para elaborar o enredo”.
(GANCHO,2004)
A partir dos contos dar-se-á a análise das personagens com base na representação da mulher, do Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa: REPRESENTAÇAO, S. J. Ato ou efeito de representar; exibição; coisa que se representa; reprodução do que se tem na ideia; [...] (FERREIRA, 1968); a autora tem em mente a ideia da mulher ou de várias delas, e a representa em seus personagens.
Mulheres de diferentes papéis são representadas na obra de Marina Colasanti, a diversificação de características em suas personagens torna seu trabalho com caráter verossímil.
A escrita feminina tem suas particularidades, pois denota maior sensibilidade às questões exteriores, assim como às questões internas e psicológicas da mulher. Anteriormente a mulher era representada pelo “olhar” masculino, ou seja, o feminino era retratado de acordo com a maneira mais apropriada ao homem, salvo quando escritoras utilizavam pseudônimos para divulgar suas obras.
“Para que ninguém a quisesse”
O conto “Para que ninguém a quisesse” é composto por duas personagens, que se apresentam como “o homem” e “a mulher”. Nesse momento, a autora traz uma mulher como muitas, de certa forma ela aproxima o conto da vida pessoal do leitor.
Como muitas outras a personagem feminina, no conto, é limitada aos caprichos do marido, ele é exigente: “[...], e ele, foi obrigado a exigir que eliminasse os decotes [...]”, é claro que nesse trecho a “obrigação”que o homem sentia em repreender a mulher, surgia, a medida que ele observava olhares para sua esposa, sentia medo de perdê-la para outro homem.
O homem notava que sua mulher chamava muito a atenção dos demais homens, pela sua beleza, graciosidade, enfim, tratou de desbotá-la, deu fim aos artifícios para que ficasse “feia”, ela como esposa submissa, passiva, “obedeceu” às ordens do esposo, este que não lhe dava outra opção. A mulher perdeu seu brilho, sua vivacidade, transformou-se apenas em mais um objeto da casa, de uso de seu marido. O homem, como todo outro homem, deixou também de olhá-la, quis trazer de volta o seu desejo, não sua mulher, sua autenticidade, mas necessitava sentir desejo por ela novamente. E quando disso se deu conta, quis presenteá-la por meio de artifícios, para que seu desejo se reascendesse. A mulher, apática, não mais sentia motivação para ser ela mesma, e não sentia mais a necessidade de estar bela, sentiu em certo momento essa necessidade, mas fazia para seu marido, e quando para ele, ela “estar bela” não foi interessante, da vontade dele, fez a sua e se acomodou, aceitando o capricho do marido.
Há muito tempo a visão de que a mulher deve submissão ao homem esta presente, Russeau dizia “a mulher é destinada ao casamento e à maternidade”, apesar de a mulher ser amparada por lei, o preconceito e os paradigmas estão ainda incrustados em nossa cultura. A Constituição Federal de 1988, afirma que:
Art. 226. [...] § 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.
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O que se subentende pela lei, é que a mulher tem os mesmos direitos que o homem, mas não é o que se vê no cotidiano, mulheres como a do conto “Para que ninguém a quisesse” passam por situações parecidas diariamente, sob o olhar atento dos maridos, sem poder desenvolver seu lado psicológico e social, mulheres que se quer podem manter relações com o mundo exterior que não o de casa. Del Priore afirma que: na sociedade tradicional e conservadora, a mulher não tem estatuto sozinha, ou seja, fora do casamento. O casamento “é a única instituição que lhe permite realizar-se enquanto ser social” (DEL PRIORE, 1995:141), isso nos transmite a ideia de que a mulher não é um ser, mas sim um ser que depende do homem para desenvolver-se nos diversos âmbitos sociais.
“Moça tecelã”
Colasanti retrata um outro tipo de perfil feminino nesse conto, por recursos de uma fábula, a mulher independente que constrói a cada dia seus sonhos, a mulher que se basta por si mesma, que consegue perceber interferência negativa do homem em sua vida, e muda a situação a tempo.
A moça, no conto, é delicada, sensível, criativa, simples, não tem ganância, vive feliz em sua vida, dependendo afetivamente e socialmente só de si mesma. Ao fazer seu tempo e seu espaço, a moça traz, constrói, a necessidade de companhia, de um homem para crescer ao seu lado; ela trouxe alguém para a sua vida, um companheiro, talvez porque, a sociedade a impôs isso, a presença de um homem na vida de uma mulher, ela achou que realmente precisasse.
O homem, ambicioso, ganancioso, dominador e autoritário, entrou na vida da moça, com todos os seus desejos, não os mesmos da moça, mas, desejos materiais, não os de felicidade, mas de enriquecimento supérfluo. A moça moldou um homem para si, da maneira que viesse, usufruindo de suas qualidades e virtudes para seu bem próprio, sua satisfação pessoal, a moça por algum tempo, submeteu-se aos caprichos do marido, fez para agradar, mas já não tinha vida, vivia para ele, perdeu sua identidade, sua autenticidade, simplicidade.
Percebeu, então, que o homem em nada havia acrescentado em sua vida, mas pelo contrario, deteve sua liberdade em se apressar, seus sonhos ele não valorizou, suas vontades ele fez como se não tivesse ouvido. A moça teve a autonomia de tomar sua vida para si, “desfez”o homem de sua vida, se impôs e voltou a sua antiga vida, onde era realmente feliz e realizada, sem a necessidade de um homem.
O homem, não a desejava, mais sim, tudo o que ela podia lhe proporcionar, lhe oferecer com seu mágico poder de tecer a vida, ele não admitiu a moça ter esse poder, não lhe cabe, o homem sentiu-se ameaçado, enclausurou-a, mas não se deu conta que ela ainda tinha consciência do que acontecia e de sua insatisfação.
A Moça tecelã é a representação da mulher autônoma, que vai à busca de seus objetivos, é o retrato da mulher que não se cala, não se acomoda e nem se submete à possível “autoridade” masculina.
“Luz de lanterna, sopro de vento”
Nesse conto, a personagem feminina apresenta-se como a representação da mulher que ama, que espera por seu homem, não de maneira submissa, dependente, mas sim, o amor que cuida, o amor que sente falta e se preocupa.
A figura feminina representada no conto “Luz de lanterna, sopro de vento” difere-se das duas anteriores personagens já mencionadas e é possível compará-la com a moça de “Moça tecelã”, verificando assim características antagônicas. A mulher nesse conto é o retrato da mulher apaixonada, que ama “seu homem”, sente sua falta e precisa de sua presença; sua posição indica um caráter servil, de submissão, porém, essa característica se difere da mulher apresentada no conto “Para que ninguém a quisesse”, pois essa é submissa e passiva, mas não se sente feliz com sua posição, ao contrário daquela que assume sua posição com gosto, sente satisfação em ser a mulher de um homem, em amá-lo.
O conto sugestiona uma metáfora com os antigos contos de fada, onde a “princesa” (mulher) espera pelo príncipe encantado que vem a cavalo ao seu encontro, para que vivam felizes para sempre. Ainda há a idéia de propriedade nos termos de tratamento utilizados no conto como: “seu homem”; “seu marido”; “o marido”, “a mulher”.
A lanterna acesa toda noite pela mulher é a simbologia da necessidade da presença do marido, da demonstração de seu amor, a imposição de seu retorno para cara, para que voltasse para ela e não para outra mulher. Em seu primeiro retorno o homem se apresenta duro e ríspido, em decorrência da guerra, pedindo que não mais acendesse a lanterna, pois a falta que a mulher sentia dele o impedia de cumprir seu dever de guerreiro. O distanciamento dos dois simbolizados pela lanterna não mais acesa modifica a relação temporal, os dias e noites passam rápidos para ambos, para que em seu definitivo retorno, o homem traga suas antigas características: “contorno doce”, “sem couraça”, “retendo o sorriso nos lábios”. Ainda na noite de seu retorno, o homem “acende a lanterna” porque naquela noite não queria dormir, mas sim reconciliar-se com sua mulher, manteve a lanterna acesa para que o brilho da luz o chamasse até sua mulher.
A mulher nesse conto ama incondicionalmente seu homem, mas respeita sua vontade, dedica-se a ele, e o espera, ela sabe que ele voltará, tem a certeza da reciprocidade de seu amor, essas características levam-na à um perfil submisso e servil, porém, para a mulher essa posição é agradável e satisfatória, seu amor lhe basta.
Referências:
CAVALCANTE, Betânia Carreiro – A opressão da mulher. Mulher em questão. Maceió: Universidade Federal de Alagoas, 1987. p 59 – 62.
MURARO, Rose Marie – Conclusão: A mulher no terceiro milênio. A mulher no terceiro milênio: uma história da mulher através dos tempos e suas perspectivas para o futuro. Rio de Janeiro: 3º ed. Rosa dos Tempos, 1993, p 191 – 199.
COLASANTI, Marina. “Luz de lanterna, Sopro de vento”. In: Um espinho de marfim e outras histórias. Porto Alegre: L & PM, p. 39, 1999.
COLASANTI, Marina. “Para que ninguém a quisesse”. In: Contos de amor rasgados. Rio de Janeiro: Rocco, 1986, p. 111 – 2.
COLASANTI, Marina. “A moça tecelã”. In Doze reis e a moça no labirinto do vento. Rio de Janeiro: Global Editora, 2000.
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